Entrevista com o professor Luiz Felipe Lins – Matemática
1 – Como foi a decisão de se tornar professor de Matemática?
R: Fui criado pela minha tia, humilde faxineira, solteira, mãe de dois filhos. Ela sempre valorizou muito os professores, a escola e a educação. Sempre que saía para trabalhar, nos aconselhava prestar muita atenção no que era dito por nossos professores. Sempre tive excelentes professores, que foram verdadeiros exemplos e sempre me motivaram a me superar, assim a decisão aconteceu de forma natural.
Mais velho pensava também na possibilidade de ser professor de Língua Portuguesa, mas acabei optando pela Matemática por ser uma ciência desafiadora, na ocasião a escolha pela Matemática foi tomada observando a realidade do mercado de trabalho.
2 – Diante de um ano tão desafiador, por conta da pandemia, como foi a sensação de ser premiado diversas vezes, inclusive no quesito votação popular?
R: A pandemia trouxe para mim muita organização, principalmente dos projetos que estavam em execução. Geralmente quem trabalha com projetos, acumula uma série de materiais, que facilitam muito a apresentação lógica e uma didática, tanto para a apresentação do projeto, quanto para o trabalho junto aos alunos.
Neste ano, resolvi me inscrever no Prêmio Educador Nota 10, que é o maior prêmio da educação brasileira e ter ficado entre os 50 melhores colocados, já foi surpreendente. Depois, ficar entre os 10 foi maravilhoso! Entre escolas públicas e privadas, diante de 4000 trabalhos inscritos, ter um trabalho reconhecido entre os 10 melhores já foi uma enorme gratificação, além de conhecer diversos trabalhos, com diferentes propostas e aplicações.
Este prêmio demandou muita dedicação, muita fundamentação, uma agenda com reuniões semanais com todos os patrocinadores, além da apresentação para uma banca de educadores catedráticos, para que eles possam então escolher o Educador do Ano. Além do prêmio por votação popular, o chamado Esse Projeto é 10.
O professor Luiz Felipe Lins ganhou nas três categorias, destacando o professor como profissional, que além de um esforço de cunho pessoal, precisa de recursos para exercer esse papel transformador. Além disso, o professor também inscreveu este mesmo trabalho no prêmio Shell de Educação Científica, sendo premiado com este grupo de alunos, na categoria do Ensino Fundamental 2.
3 – Conte-nos um pouco sobre o projeto vencedor.
R: O projeto vencedor foi realizado na Escola Municipal Francis Hime, localizada no bairro da Taquara, no Rio de Janeiro. Na ocasião, o projeto contou com a participação de duas turmas do 7º Ano.
Após passar por uma obra de um conjunto habitacional do Projeto Minha Casa Minha Vida e me deparar com um folder informativo da planta, resolvi levar o material para a sala de aula e apresentar para eles o material. Para minha surpresa, para alguns aquela era a primeira vez que eles se depararam com o desenho de uma planta baixa. O projeto unia geometria, construção civil e tecnologia. Além de todo o conteúdo da disciplina de Matemática abordado durante o processo, os alunos tiveram a oportunidade de conhecer alguns softwares como o Autocad, tiveram também contato com ferramentas como escalímetro, espaçadores e unindo o contexto familiar e social, ao ensino da matemática propriamente dito.
Ao final do projeto, os alunos tiveram a oportunidade de executar os seus próprios projetos, colocando a mão na massa, através da confecção de maquetes. Além de trabalhar os conteúdos como unidades de medida, área, perímetro e escala, os alunos ainda realizaram uma autoavaliação. Os resultados foram surpreendentes, pois muitos alunos fizeram questão de destacar que além do sucesso na realização das maquetes, conseguiram absorver conteúdos como respeito ao próximo e valorização da família.
4 – Como é experiência ser professor do Colégio Alfa CEM Bilíngue?
R: Estou no Alfa CEM há 10 anos (ou mais). Trabalhar no Alfa CEM é maravilhoso. Acredito que temos que trabalhar em instituições onde as nossas crenças vão ao encontro das crenças da instituição.
O Alfa CEM tem um olhar familiar, um olhar que acolhe, que “escuta”, que valoriza muito o ser humano – o aluno e o professor – e todos os que estão ali dentro. É um espaço de construção, onde eu aprendo a cada dia, onde eu sou respeitado, onde eu vejo a valorização do professor e onde eu pretendo estar por muito tempo.
5 – Quais são os diferenciais em relação a metodologia do ensino da Matemática no Colégio Alfa CEM Bilíngue?
R: Acredito que a Matemática está fixada em um tripé: Conceitualização, instrumentalização e aplicação. Se você tem um tripé firme, com certeza terá uma educação de ponta. E isso o Alfa CEM constrói muito bem!
O trabalho que é realizado na Educação Infantil é “fora da linha da curva”, eu nunca vi nada igual. O trabalho de inglês é fantástico, incrível mesmo. E assim vamos seguindo para os demais segmentos, como o Fundamental e o Médio.
É um trabalho que se constrói da base, enaltecendo valores humanos, que serão úteis durante toda a vida e para o mundo.
O Alfa CEM “constrói seres humanos de verdade” e isso realmente é um diferencial.
6 – Diante da maior média em Matemática da Cidade do Rio de Janeiro, no ENEM 2019, quais foram os diferenciais do Colégio Alfa CEM Bilíngue para alcançar esse excelente resultado?
R: Se preocupar com o ensino de Matemática desde a base, construindo um bom alicerce. Resultados como esse são consequência.
Considero que os processos são muito mais importantes, a consequência como esse resultado obtido no ENEM, corrobora todo o processo pedagógico que vem sendo trabalho no Colégio Alfa CEM, desde a base. A professora Maria Cristina – fundadora do Colégio Alfa CEM Bilíngue – costuma dizer que ninguém fica para trás e isso eu carrego junto a mim. Nenhum aluno meu deixará de aprender, nenhum deles ficará para trás!
Com valores socioemocionais trabalhados desde o Berçário e a Educação Infantil, os alunos passam a almejar um futuro por meio da educação, pensando o melhor para si e para o mundo!
O ENEM é consequência, mas posso garantir que os percursos são muito mais interessantes.
7 – Enquanto professor, quais são os principais desafios para o incentivo ao interesse pela matemática e as suas aplicações?
R: Eu costumo dizer que quando trabalhamos uma Matemática prática, com um olhar voltado para a vida deles, principalmente nas classes iniciais, ela se torna muito mais interessante e significativa. Quando as crianças veem a aplicação prática daquilo que elas aprendem, aquilo passa a ter sentido. Eles começam a criar verdadeiros vínculos com a disciplina, fazendo com que o interesse pela descoberta e pelo novo, seja aflorado. Assim começam a desenvolver suas potencialidades e perceber que realmente ela é significativa.
Se um aluno vai ao cinema assistir a um filme em 3D, ele precisa compreender que por trás daquelas imagens existem equações dificílimas para serem resolvidas, uma matemática complexa. Trabalhando desde a base, ao chegar no Ensino Médio os alunos recebem as ferramentas para trabalhar essa complexidade, demonstrando interesse e relacionando os conceitos assimilados, com as aplicações do dia a dia.
8 – Sabemos que a interdisciplinaridade é fortemente trabalhada no Colégio Alfa CEM Bilíngue. Quais são os diferenciais desse tipo de trabalho?
R: Trabalhar a interdisciplinaridade hoje é fundamental, pois nada está sozinho. Não é possível falar de medicina, por exemplo, sem citar a matemática.
A ciência evoluiu muito e junto com essa evolução há um olhar especial sobre os diálogos realizados entre todas as áreas e a partir disso, as coisas começam a fazer sentido. Não é imaginável, por exemplo, que um aluno fale que não gosta de matemática, mas diga ser apaixonado por música, afinal música possui compasso, ritmo e isso nada mais é do que a matemática. E nós como educadores temos que estimular essa integração.
9 – Diante dos desafios do ano de 2020, a que você atribui o sucesso da adaptação do Colégio Alfa CEM Bilíngue a essa nova metodologia de Ensino Remoto?
R: O Alfa CEM conseguiu estar à frente de muitas escolas, pois ele já vinha trabalhando alguns pilares, com os professores e alunos, que são fundamentais. Salas de aula virtuais, onde professor utiliza ferramentas de ensino e tecnologia voltadas para a prática educativa de forma significativa. Isso já fazia parte do nosso contexto escolar, com a chegada da pandemia, se fez necessária apenas uma adequação.
O Alfa CEM não está à frente porque ele partiu da pandemia para realizar um modelo de escola diferenciado, ele já vinha construindo esse modelo diferenciado anteriormente e durante a pandemia essa aplicação ocorreu de forma exemplar. Essa antecipação se deu por conta de todo um estudo, um investimento e principalmente dedicação. Sem dúvidas, o contexto escolar diferenciado do Colégio Alfa CEM, contribui para que tudo isso aconteça de forma assertiva.
10 – Quais são as metas e novos projetos para o ano de 2021?
R: Meu principal desejo é receber a vacina!
Sem sombra de dúvidas acredito que devemos voltar o nosso olhar para o socioemocional de nossos alunos, destacando que todos os profissionais da escola devem estar atentos para os pequenos sinais, não apresentados anteriormente a pandemia, por nossas crianças. Apesar de não sermos os profissionais indicados para trabalhar diretamente esses distúrbios, podemos ser os sinalizadores, trabalhando em conjunto com a família, a fim de promover o bem estar de todos os nossos alunos. Então devemos pensar em atividades curriculares acolhedoras que desenvolvam as habilidades socioemocionais.
Sobre os projetos, para esse ano, pretendo trabalhar na rede pública com um projeto de meninas cientistas, promovendo assim um interesse de mais meninas pelas ciências, fazendo com que elas conheçam áreas científicas onde mulheres atualmente não ocupam, mas que elas podem ocupar. E quem sabe participar do Global Teacher Prize, que foi um dos patrocinadores do Prêmio Educador Nota 10, e tentar trazer esse prêmio para o nosso país.