O Brasil comemora o Dia do Índio em 19 de abril, e o mundo faz a sua homenagem aos Povos Indígenas neste 9 de agosto – em data instituída pelas Nações Unidas. Neste ano, além de contribuir para a preservação do patrimônio histórico cultural, a Unesco motiva para a proteção das línguas diante do perigo de extinção iminente de idiomas nativos.
“Eu nasci e fui criada aqui na Aldeia Murutinga. Meu pai se chama Arivaldo Ruso Braga e, minha mãe, Raimunda Cabral de Amorim – que faleceu ano passado, em 14 de maio. Há muitos anos que eu vivo aqui nesta aldeia e, desde criança, eu venho vendo as diferenças a cada ano que passa. Antes, quando eu me criei aqui, era muito farto. O nosso cacique aqui da aldeia e as regras eram muito muito diferentes de hoje. Meu avó foi cacique durante 42 anos aqui nesta aldeia. Todo o povo obedecia ele. Ele era um sábio aqui dentro e, na hora que ele chamava, todo mundo vinha. E todo mundo aqui trabalha no coletiva. Nós temos as nossas danças indígenas – a nossa dança é dança da cotia que é feita há muito anos –; a tradição da nossa festa aqui, de Santo Antônio, também já acontece há mais de 300 anos. Antigamente, os festejos do Santo Antônio aqui tinha de comida o tambaqui, o pirarucu, veado, porco do mato, era tudo dado, nada era vendido. A iluminação era feita de banha de pirarucu, de banha de tambaqui, – a minha vó falava: ‘banha de peixe-boi’.”
O testemunho é de Amelia Braga Cabral, professora na Escola Indígena Manuel Miranda, da aldeia de Murutinga que fica na cidade de Autazes, centro urbano de Manaus, no Amazonas. A paixão pelo ensino foi passada para a maioria dos seus 9 filhos, que também se tornaram professores.
A família pertence à comunidade indígena Mura, que ocupa vastas áreas no complexo hídrico e por isso é conhecido como um povo navegante e de ampla mobilidade territorial. O grupo se esforça em preservar a língua nativa, através da valorização de expressões e resgate linguístico para enfrentar a triste realidade vivida no mundo: a cada 14 dias morre um idioma no mundo, segundo a Unesco, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Mas o risco é que o número seja ainda maior, já que algumas línguas nunca foram estudadas em comunidades isoladas.
E os nativos que as sustentam na América Latina são os que mais sofrem com essa extinção. Não é considerada a região com maior número de línguas, nem de falantes de idiomas nativos, mas a América Latina apresenta a maior diversidade delas. Os dados são do Atlas Sociolinguístico de Povos Indígenas, de 2009, mas que ainda hoje é um dos trabalhos mais completos para desvendar essa realidade.
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